Arquitectura

Mais que um mero espaço de escalada, o Vertigo teve na sua fundação a vontade firme de integrar um projecto arquitectónico mais amplo e coerente que pensasse o espaço como um todo.
Graças à dupla de arquitectos responsável pelo projecto, este objectivo acabou por ser cumprido, e o Vertigo Cafe assume um papel claramente unificador e delimitador do espaço.







“O projecto VERTIGO, em Lisboa, surge num contexto particularmente complexo atendendo à realidade física onde se insere, às condições programáticas exigidas à partida, mas também à real conjuntura económica que atravessamos. Trata-se de um espaço que pretende albergar um café mas também a recepção de um centro desportivo, a venda de equipamento e ainda uma área lounge de carácter informal. Talvez a resposta adequada a um programa seja a não consideração do mesmo, pelo menos num sentido estrito e literal. Quando a forma segue a estrutura, o acontecimento surge e abre espaço ao imprevisto.
Poderíamos entender a Arquitectura como força essencial de mediação. E é também nesta definição que poderá existir conjuntamente enquanto realidade material e imaterial. Enquanto estrutura física, estática, e enquanto acontecimento, volátil.
O projecto situa-se dentro de um grande armazém industrial na frente ribeirinha de Lisboa, com vista para o Rio Tejo, e irá receber um centro de escalada indoor. Neste sentido, a estrutura que constitui o café, deverá assumir-se como um filtro de transição entre a realidade exterior da cidade e o mundo interior, do desporto, mantendo a relação directa entre ambos. VERTIGO nasce destas premissas mas também de um posicionamento crítico perante as estruturas industriais abandonadas nesta zona da cidade, que outrora admitiram a substituição do homem pela máquina. Faz-se construir por um embasamento com peças de betão pré-fabricado em moldes artesanais, e uma estrutura de madeira com peças cortadas artesanalmente, ainda que através de um processo repetitivo, em série, industrial. Poderá a contradição existir em Arquitectura sem que esta se torne formalmente evidente?
O processo construtivo segue a mesma lógica e é feito manualmente, admitindo as imperfeições e as circunstancias especificas de uma obra aberta, que enriquece o desfasamento entre projecto e construção. A cor avermelhada que é levemente aplicada sobre a estrutura de madeira corresponde a um carácter simbólico que se poderia ler numa sobreposição de significados, evidente de um modo particular na sua relação com as gruas e contentores situados junto ao rio, a ponte 25 de Abril ou as estruturas industriais que marcam forte presença neste local. Para o efeito, a ambiguidade quanto à tonalidade efectiva da cor explora estas diversas relações e é dada pela variação da luz ao longo do dia, alterando definitivamente a percepção do espaço e do ambiente interior. Também o conjunto de elementos metálicos negros, colocados no interior, correspondem a essa memória simbólica mas fragmentária do período industrial do século XIX em Lisboa.
A totalidade do projecto é gerado a partir da pequena escala, através da sobreposição de peças de madeira aparelhada, o que permite uma relação directa do todo com as partes, das partes entre si, e destas novamente com o todo. A utilização de pinho nacional bem como a sua construção repetitiva e elementar permite a participação activa de várias mãos, o que reduz exponencialmente o custo total da obra e explora a identificação recíproca e profunda entre o espaço construído e as pessoas, entre si.
O projecto VERTIGO, de planta rectângular com 12 metros de comprimento por 5 metros de largura, desenvolve-se em dois níveis criando áreas cobertas, espaços elevados e momentos onde predomina a altura total do armazém existente. Pretende-se que a experiência física do edifício possa enfatizar as características pré-existentes através de mecanismos arquitectónicos elementares: a entrada faz-se por uma porta larga e baixa para um espaço tensionado, enquanto a saída é feita através de uma porta estreita e exageradamente vertical, que monumentaliza o espaço de escalada e simultaneamente se torna janela privilegiada, a partir dos espaços superiores. A lógica espacial interna é confrontada pelas leves adaptações exteriores que revelam a correspondência instável do armazém original e das próprias paredes de escalada. Dir-se-ia que existe uma relação recíproca na procura de equilíbrio.
A escala do projecto revela-se ambígua devido às peças de madeira, maciças, sobrepostas de modo perpendicular para permitir relações visuais. Deste modo atribui-se um caracter austero que contrasta com uma imagem transparente criando uma leve contradição entre a imagem aparente e a experiência física. Estas peças, por sua vez, encontram-se alinhadas à face nas superfícies interiores, impondo uma certa serenidade, e salientes na totalidade das superfícies exteriores, repetido de um modo não evidente nem impositivo alguns dos padrões predominantes nos espaços de escalada. Deste modo, estaremos a favorecer a possibilidade de uma acção, assumindo que toda a Arquitectura terá implícito um carácter performativo. A acção ensaiada torna-se definitivamente imprevisível com a construção desta possibilidade, vivendo independentemente de esta poder ou não acontecer.”
João Quintela e Tim Simon
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